No Image x 0.00 + POST No Image

Você pagaria para viver para sempre? A promessa de imortalidade já é negócio.

SHARE
0

Se pudesse, você pagaria para viver para sempre? Em Silicon Valley, a ideia não se limita a gadgets: bilionários financiam pesquisas com a promessa de imortalidade. Nas redes, influenciadores promovem peptídeos, pó de cogumelo funcional e outras estratégias que prometem aumentar a vida — muitas vezes sem evidência científica sólida, e às vezes tentando reverter a idade biológica. A longevidade é hoje uma indústria em rápido crescimento, envolvendo banhos de gelo, saunas, crioterapia e terapias de luz vermelha — um mercado vasto que promete juventude sem fim, a um custo que pode pesar no bolso e na saúde pública.

Você pagaria para viver para sempre? A promessa de imortalidade já é negócio.

Problema 1 — Inovação impulsionada por lucro, sem evidência robusta.

A inovação é o motor da indústria da longevidade, atraindo investimentos de venture capital e celebridades que tentam 'hackear' o envelhecimento. Mas muitas dessas inovações não vêm acompanhadas de evidência de benefício para a saúde. Como exemplo, a ressonância magnética de corpo inteiro é comercializada como forma de detectar câncer e outras anomalias precocemente. No entanto, não há evidência de que esse tipo de exame melhore os desfechos em pessoas saudáveis, e muitas escolas médicas não o recomendam. Esses exames podem gerar "incidentalomas" — achados acidentais que levam a seguimentos desnecessários, custos adicionais e ansiedade. Apesar de se apresentarem como uma alternativa disruptiva à medicina tradicional, esses serviços dependem do funcionamento do sistema de saúde: os resultados costumam exigir consultas, tratamentos especializados e intervenções hospitalares, aumentando custos e pressão sobre profissionais. Essa lógica contrasta com o que muitos especialistas já avisam: mais testes nem sempre significam melhor saúde para a população; o sobrediagnóstico é uma consequência comum.

Problema 1 — Inovação impulsionada por lucro, sem evidência robusta.

Problema 2 — A mercadização do envelhecimento: marketing que transforma envelhecer em doença sob o rótulo de 'prevenção'.

Os promotores dizem que estão oferecendo medicina preventiva, mas isso se distancia da prevenção baseada em evidência da medicina pública, que depende de medidas simples, como vacinação e triagens bem calibradas. Testes exaustivos são caros, consomem recursos e nem sempre aumentam a longevidade ou a qualidade de vida. O que se ganha, às vezes, é o sobrediagnóstico — encontrar condições que nunca vão impactar a saúde de uma pessoa ao longo da vida. Também corre o risco de medicalizar o envelhecimento e de promover uma forma de ageismo no comércio, desviando recursos de funções básicas de saúde pública que poderiam beneficiar milhões. Na prática, o que funciona continua sendo simples: exercícios, alimentação saudável, sono de qualidade, relações significativas e acesso a tratamentos baseados em evidência.

Problema 2 — A mercadização do envelhecimento: marketing que transforma envelhecer em doença sob o rótulo de 'prevenção'.

Caso extremo: Bryan Johnson e a obsessão pela imortalidade

Bryan Johnson tornou-se um símbolo extremo dessa obsessão: um investidor de capital de risco que gasta milhões de dólares para experimentar uma vida longeva. Seu regime inclui uma dieta hipercontrolada, centenas de suplementos, rotinas rigorosas de sono e treino, e até transfusões de plasma do sangue do próprio filho. Esses hábitos expõem até onde pode chegar o desejo de escapar da morte quando não há base científica de benefício para a saúde.

Caso extremo: Bryan Johnson e a obsessão pela imortalidade

O que funciona de verdade — e o que não vale o preço

A evidência aponta para estratégias simples e comprovadas: exercício regular, alimentação saudável, sono de qualidade, relacionamentos significativos e tratamento médico baseado em evidência. Mais do que buscar imortalidade, a longevidade está ligada à qualidade de vida e ao acesso igualitário a cuidados de saúde eficaz. Autores citados: Samuel Cornell, PhD Candidate em Public Health & Community Medicine, School of Population Health, UNSW Sydney; Brooke Nickel, NHMRC Emerging Leader Research Fellow, University of Sydney; e Sean Docking, Research Fellow, School of Public Health and Preventive Medicine, Monash University.

O que funciona de verdade — e o que não vale o preço