Viagem no tempo: de ficção a um problema de engenharia
No meio do século XX, nos campos de Princeton, Einstein mostrou que suas próprias equações escondiam uma possibilidade real: viajar no tempo. O que antes era apenas ficção — das máquinas do tempo de Wells aos filmes de Hollywood — começou a ganhar espaço em revistas sérias como Physical Review. Hoje, o físico teórico Michio Kaku, membro da American Physical Society e especialista em teoria das cordas, afirma de maneira direta que viajar no tempo é, essencialmente, um problema de engenharia, não de matemática.
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Paradoxos, lógica e universos paralelos
As objeções clássicas não eram meramente matemáticas; eram lógicas. Um avô assassinado antes de ter filhos, um inventor recebendo desenhos de si mesmo, ou o tropeço literário de um personagem de Heinlein que é pai, mãe e filho de si mesmo — tudo parecia incompatível com a física. A mecânica quântica oferece uma saída surpreendente: mudar o passado não destrói a linha temporal, mas cria universos paralelos. Em outras palavras, se o viajante evita o assassinato de Lincoln, ele o faz em outra linha do tempo, enquanto, na nossa, a bala já cumpriu seu papel.
Túneis quânticos: wormholes e o custo energético
A ideia de wormholes, túneis que conectam regiões distantes do espaço-tempo, sugere que, em princípio, seria possível usá-los como máquinas do tempo. O grande empecilho é energético: para manter uma passagem aberta, seria necessária energia negativa — um material exótico que, segundo a teoria, aparece em quantidades muito pequenas graças ao efeito Casimir. Para Michio Kaku, tudo parte da matemática; falta a tecnologia para tornar isso real. A estabilidade dos wormholes, os efeitos quânticos que podem destruí-los e a ausência de uma teoria unificada entre gravidade e mecânica quântica mantêm a viagem no tempo como ideia ainda não prática.
Do sonho à prática: o que falta e quem já duvidou
O caminho para transformar a viagem no tempo em realidade envolve superar a estabilidade dos wormholes, evitar efeitos quânticos destrutivos e encontrar uma teoria que una a gravidade com a mecânica quântica. Stephen Hawking, que nos anos 90 debochou da ideia de turistas do futuro, acabou mudando de posição: reconheceu que a física permite viagem no tempo, ainda que talvez não de forma prática. A pergunta permanece: existem visitantes do futuro observando nosso mundo com a mesma indiferença com que observamos um formigueiro?
Caminho da ciência, fé nos mistérios e a promessa de milagres
Kaku comenta com a sua ironia habitual: 'A vida sem milagres — como o céu sem estrelas. Os céticos veem apenas fatos, e os sonhadores — mundos inteiros. Acredite nos mistérios, e eles responderão com magia. Pois o mais inacreditável costuma estar escondido além do impossível.' A pergunta sobre a viagem no tempo continua nos convidando a pensar, mesmo diante do que ainda parece impossível.