Verkhoyansk: onde -67,8°C é o normal e a vida continua — água do gelo e maçãs a 420 rublos por quilo
Imagine uma cidade onde -40°C já é notícia de apelo de ‘ficou mais quente’. Em Verkhoyansk, -67,8°C é a normalidade do inverno, e as pessoas seguem vivendo como se nada fosse impossível. A cidade tem pouco mais de 768 habitantes e fica entre blocos de gelo, vivendo sob a lógica de extremos. A água potável não vem da torneira: é extraída de pilhas de gelo diante das casas, um ritual diário que lembra que o frio não é apenas uma condição, é um modo de existir. As maçãs custam 420 rublos por quilo, uma referência aos preços que sobem ainda mais quando o transporte aéreo aumenta no verão. O cotidiano é uma prova de que, mesmo em temperaturas extremas, a vida precisa continuar.
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Verkhoyansk: sete ruas, uma escola e o título de cidade desde 1822
Verkhoyansk é composto por sete ruas, uma escola e recebeu o status de cidade pela primeira vez em 1822, uma designação que, na prática, nasceu da presença de exilados enviados pelo czar. A história é contada pela própria comunidade, que vê na dureza do ambiente uma forma de identidade. A diretora interina da escola, Galina Dabanova, comenta com humor: “Nós temos menos de 1000 habitantes. A rua mais longa tem três quilômetros. As outras são ainda menores. Assim é o nosso megacidade!” Entre o frio que não cede e a vida que se reinventa, a cidade já aprendeu a medir o tempo pela aguda diferença entre -60°C e -40°C — uma semana de frio intenso que transforma a paisagem em silêncio, até que a cidade respira de novo.
Rotina de frio extremo: roupas, botas e a vida sob o gelo
Nadежda lembra da infância: “Você coloca as рейтузы (fusos de vestuário), meias grossas, dois ou três pares de calças, e ainda assim os joelhos ficam vermelhos de frio.” O mundo de Verkhoyansk ganhou novas imagens de proteção: macacões chineses ajudam a enfrentar o rigor, e as crianças vão para a escola em semi-macacões, enquanto as aulas acontecem com roupas normais. As botas são de pele de rena, algumas até com salto: a beleza pede sacrifícios mesmo quando a temperatura não cede a -60°C. Neste cenário, o frio é o que facilita a presença de uma vida marcada pela adaptação constante, pela moda escolhida pelo frio extremo e pela resiliência cotidiana.
Economia endurecida: preços, transporte e a batalha pelo frio
Não existe água fria nas casas de Verkhoyansk — apenas água técnica aquecida para uso diário. Água potável vem das próprias montanhas de gelo diante das casas. No verão, os moradores utilizam porões de gelo, cavados na permafrost a dois metros de profundidade, onde o frio permanece e o gelo conserva alimentos. Tudo isso faz parte de uma economia de sobrevivência, onde cada rublo conta. Os preços do dia a dia refletem a distância entre o norte extremo e o resto do país: maçãs a 420 rublos por quilo, batatas a 200, repolho a 260. O frete aéreo adiciona cerca de 200 rublos por quilo, e os comerciantes repassam esse custo aos consumidores. Os salários são modestos — 40 mil rublos para funcionários públicos é considerado bom, e a média fica em 25 mil. A juventude, em busca de oportunidades, migra para Moscou por condições melhores de vida e trabalho. Entre os animais, a transição é marcante: antes havia vacas, hoje predominam cavalos Yakuts; as vacas requerem muito alimento e cuidado, enquanto os cavalos se alimentam sozinhos, mesmo sob a nevasca. A produção de leite com alta gordura, como 6%, é lembrada com saudade, mas os cavalos alimentam a família com carne de potro ao longo do ano.
Cultura, memória e futuro: quedas e resistência
Mesmo com todas as dificuldades, a cidade não se rende. Os jovens escolhem partir em busca de oportunidades, enquanto os mais velhos permanecem com orgulho no território que chamam de casa. O museu “Pole de Cold” é símbolo dessa memória e da identidade de Verkhoyansk. Os moradores afirmam com firmeza que não são um vilarejo: são uma cidade — e gostam disso. Em casa, o calor pode subir até 30°C — se você estiver no segundo andar e o cozinheiro da casa conseguir manter a chama acesa. No primeiro andar, o calor pode faltar. Ainda assim, a vida segue, com redes de água de gelo, lojas impregnadas de frete caro e um povo que diz: aqui é lar. O que você pensa sobre uma vida tão extremada? Deixe seu comentário. Quer conhecer mais lugares inusitados e tradições distantes? Inscreva-se no canal para acompanhar histórias fascinantes sobre culturas, costumes e curiosidades do planeta.