Vaticano devolve artefatos sagrados de um século aos povos indígenas do Canadá
Chegada emocionante no Canadá: mais de 60 artefatos culturais são devolvidos aos povos indígenas do Canadá, após um século guardados no Vaticano. Indígenas aguardavam na pista coberta de neve do Aeroporto Internacional Pierre Elliott Trudeau, em Montreal, enquanto a carga era descarregada de um jato da Air Canada. As caixas continham mais de 60 artefatos culturais preciosos, incluindo um raro kayak de pele de foca Inuit, retirados das comunidades First Nations, Inuit e Métis há mais de um século e guardados nos museus e cofres do Vaticano desde então. A homecoming emocional, mostrada em imagens pela CBC News, afiliada da CNN, marca o clímax de uma campanha incansável de três anos liderada por líderes indígenas, que contou com o endosso do Papa Francisco antes de sua morte, em meio ao seu histórico pedido de desculpas pelos abusos cometidos nos internatos administrados pela igreja no Canadá. A repatriação ocorre num contexto em que museus ao redor do mundo vêm devolvendo itens que foram roubados ou adquiridos de modo potencialmente antiético aos seus países de origem. — “É um momento importante e emocionante para muitas Primeiras Nações em todo o país”, afirmou First Nations National Chief Cindy Woodhouse Nepinak em uma coletiva de imprensa no sábado. — “We’ve come a long way, and we have a long way to go.” (Nós percorremos um longo caminho, e ainda temos um longo caminho pela frente.) Não há inventário público das mercadorias repatriadas, que representam uma pequena parte dos milhares de objetos indígenas da era colonial no Vaticano. Entre os 62 artefatos está um kayak de pele de foca Inuvialuit do oeste do Ártico, que foi o último a sair do avião em sua própria caixa de carga, segundo a CBC. Os artefatos foram trazidos pela primeira vez a Roma para serem exibidos na Exposição Mission Exposition de 1925, uma exibição de 13 meses que promovia a influência da Igreja ao redor do mundo e que atraiu milhões de visitantes. O Vaticano tem mantido por um século artefatos sagrados que, agora, seus donos indígenas desejam devolver.
62 artefatos indígenas chegam ao Canadá, incluindo um kayak Inuit de pele de foca
As caixas foram descarregadas do jato em Montreal, com 62 artefatos culturais, incluindo um kayak de pele de foca Inuit, que foi o último a sair do avião em sua própria caixa de carga, segundo a CBC. Os artefatos incluem peças de várias comunidades indígenas, que estiveram sob a guarda do Vaticano por mais de um século e retornam para serem avaliados quanto à origem e ao contexto cultural. Os artefatos foram primeiro trazidos a Roma para a Exposição Missione Vaticana de 1925, uma mostra de 13 meses que promoveu a influência da Igreja no mundo, atraindo milhões de visitantes. A controvérsia sobre a alegação de que os itens foram “presentes” ao Papa Pio XI, que liderou a Igreja entre 1922 e 1939, persiste e é contestada por povos indígenas no Canadá. Em 2022, representantes das Primeiras Nações, Inuit e Métis visitaram Roma para conversar com Francisco sobre abusos históricos nos internatos, abrindo o caminho para o retorno. Francisco, em sua peregrinação penitencial ao Canadá, pediu desculpas pelo “mal cometido por tantos cristãos contra os povos indígenas”. O Vaticano e a Conferência Canadense de Bispos Católicos anunciaram no mês passado que os itens, juntamente com sua documentação, seriam “presentados” de volta às comunidades indígenas, encerrando a jornada iniciada por Francisco. Groat afirmou que é “promissor ver (Leão) tomar uma ação tão significativa tão cedo em seu papado, esperando estabelecer as bases para relações renovadas entre a Igreja Católica e os povos indígenas tanto no Canadá quanto globalmente”. Os artefatos serão examinados no Museu Canadense de História, em Gatineau, Quebec, próximo de Ottawa, antes que os líderes indígenas encontrem novas casas para eles. “Estamos ansiosos para poder desembrulhar os itens nos próximos dias e para que a liderança Inuit e especialistas entendam exatamente de onde vêm esses itens em cada comunidade e para compartilhar esse conhecimento não apenas com os Inuit do Canadá, mas também com o Canadá como um todo”, disse Natan Obed, presidente da Inuit Tapiriit Kanatami. Para muitos povos indígenas no Canadá, o retorno é visto como ‘ancestrais culturais com uma consciência ou vida própria’, afirmou Groat. “Esses ancestrais culturais agora podem retornar às nossas comunidades e ajudar com a continuidade e revitalização de nossas práticas culturais.”
Próximos passos e significado cultural
Os artefatos serão examinados no Museu Canadense de História, em Gatineau, antes de os povos indígenas encontrarem novos lares para eles, em uma etapa crucial do processo de reconciliação. Natan Obed, presidente da Inuit Tapiriit Kanatami, disse: “Estamos ansiosos para poder desembrulhar os itens nos próximos dias e para que a liderança Inuit e especialistas entendam exatamente de onde vêm esses itens em cada comunidade e para compartilhar esse conhecimento não apenas com o Canadá como um todo.” O retorno é visto por muitos como um marco de reconciliação, com os artefatos sendo descritos como “ancestrais culturais com uma consciência ou vida própria” que podem apoiar a continuidade e revitalização de práticas culturais. O gesto é interpretado como um passo promissor para fortalecer as relações entre a Igreja Católica e as comunidades indígenas no Canadá e globalmente. – “Os artefatos que estiveram sob guarda do Vaticano há décadas estão hoje de volta às comunidades que os criaram, para que possam continuar a contar suas histórias,” conclui Groat.
