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Por que, em pleno Tóquio, centenas de crianças vivem nas ruas de Kabukichō? O segredo sombrio de uma cidade que não quer ver

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Em Kabukichō, o coração de Shinjuku, há um canto que a maioria dos transeuntes nem percebe. Centenas de crianças e adolescentes acabaram nas ruas após serem expulsos de casa. O bairro, conhecido por néon e confusão, esconde uma realidade que a cidade prefere não encarar. Entre eles está um grupo que se autodenomina Toyoko Kids, que passa o dia perto do cinema Toho, improvisando abrigo, alimento e um lugar para se sentir visto. A pandemia de COVID-19 abriu fissuras já existentes na sociedade japonesa, revelando conflitos familiares que antes eram mantidos sob o tapete: pais expulsando filhas, filhos sem um teto — uma foto com consequências duradouras. Este é o retrato que Yusuke Nagata começou a registrar em 2019, não apenas como observador, mas como participante de uma cultura de rua que o próprio fotógrafo escolheu entender — e mostrar ao mundo.

Por que, em pleno Tóquio, centenas de crianças vivem nas ruas de Kabukichō? O segredo sombrio de uma cidade que não quer ver

Quem são os Toyoko Kids? Crianças expulsas que encontraram abrigo no limiar da cidade

Os jovens de Kabukichō vivem à margem, sem família estável, tentando sobreviver. Em Toho, perto do cinema, eles passam os dias juntos, improvisando abrigos, bebendo, dormindo em espaços próximos, e buscando um mínimo de dignidade no meio da rua. Desde 2019, os jovens encontraram apoio em espaços abertos nas redondezas, mas o que mais desejam é sentir que não estão sozinhos. Eles enfrentam o estigma da rua e, muitas vezes, dependem de redes de apoio que aparecem onde menos se espera. A vida na praça e nas esquinas é uma rotina de lutas diárias por cuidado, afeto e identidade.

Quem são os Toyoko Kids? Crianças expulsas que encontraram abrigo no limiar da cidade

Yusuke Nagata: da rua para a lente — o que uma câmera pode revelar

Nagata não é apenas um observador: ele já viveu a vida de rua em Tóquio e decidiu registrar essa verdade. Começou sua trajetória em Kabukichō em 2019, inspirado pelo livro de Yang Sín Wu, 'Criança Perdida de Shinjuku', que conta a história de famílias sem teto. Ele se tornou parte da própria cena — não para explorar, mas para entender de dentro. Suas fotos, retratadas sob o título 'Crianças de Toyoko', contam histórias de dificuldades para encontrar um lugar no mundo sem ter para onde ir. Nagata também integra o Tokyo SPC (Tokyo Street Photography Club) e passa longos períodos no bairro para captar a vida autêntica — os momentos cheios de emoção, silêncio, raiva e esperança que a cidade muitas vezes não vê.

Yusuke Nagata: da rua para a lente — o que uma câmera pode revelar

Mandzikaï: portas abertas, não julgamentos

Desde 2019, a organização Mandzikaï atua para ajudar adolescentes de rua. Voluntários distribuem roupas quentes, comida e itens de cuidado todos os dias. Mas o verdadeiro diferencial não é a doação: é a presença humana — pessoas que não abandonam o jovem quando ele fica em silêncio, que não olham com rejeição se ele reage com raiva. Eles abrem portas de espaços onde os jovens podem esperar a chuva, descansar ou simplesmente ficar em silêncio. Para muitos, isso representa a primeira etapa de uma jornada que pode levá-los a um lugar onde não são mais julgados por serem diferentes.

Mandzikaï: portas abertas, não julgamentos

Como a cidade, a internet e a percepção pública moldaram Kabukichō

Nagata observa que o distrito já foi lar de abrigo e apoio para jovens vulneráveis. Com o tempo, transformou-se em um lugar visto como perigoso, cheio de jovens delinquentes. Hoje, mesmo quem não tem para onde ir teme chegar lá. Agora, as redes sociais complicam a vida de Kabukichō. TikTok tornou-se a principal vitrine para a curiosidade dos jovens, e o bairro atrai pessoas que buscam 'entretenimento' ou lucro. Postagens de beber, brigas e caos geram likes, mas afastam quem precisa de ajuda. O resultado é que o local, que já foi um ponto de encontro para crianças em situação de rua, se tornou uma armadilha. Para quem quer conhecer mais cantos inusitados do planeta e culturas diferentes, siga o canal para acompanhar histórias como esta.

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