Poções de bruxa que importam: como Belladonna, Mandrágora e Artemísia abriram caminho para a medicina moderna
Entre o Halloween e as histórias de bruxas, as poções ganham vida de novo. Por trás de nomes como belladona, mandrágora e mugwort está uma verdade científica complexa: plantas que já foram temidas podem também carregar segredos médicos. A linha entre veneno e remédio nem sempre é nítida. Este slideshow leva você por uma jornada da superstição à farmacologia, mostrando como a química real moldou práticas de cura ao longo dos séculos. Prepare-se para descobrir que a “magia” pode ter raízes na ciência. E que, no laboratório moderno, essas plantas ainda importam — com cuidado extremo.
            
        
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Belladona: da beleza renascentista ao perigo mortal
Belladona (Atropa belladonna), conhecida como beladona, tem uma história longa e ambivalente: é veneno e remédio ao mesmo tempo. Seu nome vem do italiano e significa “mulher bonita”, referência ao uso cosmético na Renascença para dilatar as pupilas e realçar o olhar. Mas essa beleza tem preço: a beladona é extremamente tóxica. Ingerir apenas algumas folhas ou bagas pode ser fatal, e o toque pode irritar a pele. Em várias culturas, também foi usada por seus efeitos alucinógenos. O segredo está nos alcaloides tropânicos, como a atropina e a escopolamina, que bloqueiam a acetilcolina no sistema nervoso parassimpático, interferindo no funcionamento de músculos, coração, respiração, memória e mais. Na medicina moderna, a atropina é usada para dilatar pupilas em exames oculares, tratar bradicardia e como antídoto em intoxicações por organofosforados; a escopolamina é indicada para mal-estar de movimento e náusea pós-operatória. Pesquisas atuais destacam a relevância clínica da beladona, mas existem avisos de segurança: produtos homeopáticos contendo beladona para bebês já foram ligados a convulsões e problemas respiratórios; a planta pode interagir com antihistamínicos, antidepressivos e antipsicóticos, elevando o risco de efeitos adversos.
                 
            
Mandrágora: a raiz que parece humana e o seu poder psicoativo
Mandragora officinarum, cuja raiz tem forma humanoide, foi tema de mitos desde a Grécia antiga até a Bíblia, com a famosa ideia de que puxá-la provocaria um grito mortal — uma história que ganhou ainda espaço na ficção, incluindo nos livros de Harry Potter. Na bruxaria, mandrágora era ingrediente de ungentos voadores, amuletos de fertilidade e proteção, além de ser adicionada a poções do amor, possivelmente por seus efeitos alucinógenos. Historicamente, foi usada como anestésico, sedativo e auxiliar de fertilidade. Como a beladona, contém alcaloides tropânicos como a atropina e a escopolamina, com efeitos psicoativos. Um estudo de 2022 catalogou 88 usos medicinais tradicionais para mandrágora, que vão desde alívio da dor e sedação até pele e distúrbios digestivos. A ciência não apoia necessariamente todas essas afirmações: a escopolamina pode atuar como antiespasmódico, aliviando espasmos intestinais, mas pode causar sonolência ao bloquear receptores M1 no cérebro; extratos de folhas podem desencadear dermatite.
                 
            
Mugwort: erva de sonhos e ciência emergente
Mugwort (Artemisia species) está ligada a sonhos e cura. Em 2015, foi premiada a descoberta da artemisinina, um composto anti-malárico derivado de Artemisia annua, a erva-antaño conhecida como mugwort. Na medicina tradicional chinesa, a mugwort aparece na moxibustão, uma prática que aquece pontos de acupuntura para estimular a cura. Também é usada por praticantes para tratar irregularidades menstruais e distúrbios digestivos. A mugwort aparece na Farmacopeia Europeia como ingrediente homeopático para irregularidades menstruais, sintomas da menopausa e condições nervosas como insônia, convulsões, epilepsia e ansiedade. As partes aéreas são usadas para extratos de óleo essencial com camfor, pineno e cineol, compostos com propriedades antioxidantes, antibacterianas e antifúngicas. A artemisinina pode estimular suavemente o útero e ajudar a regular os ciclos; estudos em animais sugerem que extrato de Artemisia pode ajudar no tratamento de condições inflamatórias da pele ao reduzir a liberação de substâncias inflamatórias. A evidência clínica ainda é limitada; mais pesquisa é necessária para confirmar segurança e eficácia. Mugwort pode causar alergias, irritação de pele e dificuldade respiratória; evita-se a gravidez, pois pode provocar contrações uterinas. As lendas podem soar como fantasia, mas a verdade está na química — compostos reais que moldaram cura antiga e medicina moderna. O potencial continua a ser explorado por pesquisadores, lembrando que muitas histórias têm raízes na farmacologia real.
                 
            
A verdadeira magia está na ciência
Os três exemplos mostram que por trás do mito há ciência real: compostos que já ajudaram a medicina moderna, desde anestesia até terapias contra a malária, mas que exigem respeito, cautela e conhecimento. A curiosidade humana pode transformar plantas perigosas em remédios úteis, desde que haja estudo, controle de qualidade e vigilância de segurança. Dipa Kamdar, professora universitária sênior de Farmácia Prática, Kingston University, assina este texto, que é republicado do The Conversation sob licença Creative Commons. Este slideshow convida você a olhar as plantas não como bruxaria, mas como portais de descoberta científica. Leia o original para entender as nuances, os limites da evidência e o valor da pesquisa responsável.
                 
            
