No Image x 0.00 + POST No Image

Pirâmide de Ball: a rocha mais alta do mundo cercada pelo mar abriga um sobrevivente improvável

SHARE
0

Imagine-se a bordo de um elegante veleiro, atravessando o Mar de Tasman entre a Austrália e a Nova Zelândia, no século XVIII. Do oceano surge uma sombra colossal: uma rocha que se ergue como uma ponta de pedra, apontando para o céu. Essa é a Pirâmide de Ball, também chamada Ball's Pyramid. Com 562 metros de altura, é o maior afloramento rochoso do mundo que permanece cercado pela água. Rodeada por rochas menores que mal surgem da água, ela domina a paisagem e guarda um segredo que parecia impossível: um animal — o bicho-pau de madeira — que a ciência chegou a crer extinto por décadas.

Pirâmide de Ball: a rocha mais alta do mundo cercada pelo mar abriga um sobrevivente improvável

Como se formou a Pirâmide de Ball

Há milhões de anos, um vulcão se ergueu sobre o mar. Entre 6,4 e 7 milhões de anos atrás, a lava que subia solidificou dentro da garganta, formando um pilar de basalto — a forja vulcânica que daria origem à rocha que hoje vemos. O vulcão adormeceu. Com o tempo, o vento e a água retiraram as rochas moles ao redor e, por fim, afiaram o núcleo, moldando-o em um monólito firme. A Pirâmide de Ball é descrita como um exemplo claro da penúltima etapa de nivelamento de uma ilha vulcânica.

Como se formou a Pirâmide de Ball

Entre mares: localização, dimensões e contexto

Ball's Pyramid fica a cerca de 600 quilômetros a leste da Austrália, no Mar de Tasman. A rocha alongada mede aproximadamente 1.100 metros de comprimento por 300 metros de largura, curvada em forma de meia-lua e rodeada por pequenas ilhotas que mal surgem da água. É composta de basalto, resultado de lava fossilizada há milhões de anos. A poucos quilômetros ao norte, a ilha vulcânica Lord Howe fica a 20 quilômetros de distância. Juntas, elas e outras ilhas menores ajudam a sustentar a ideia de Zealandia — um microcontinente quase todo submerso no Pacífico.

Entre mares: localização, dimensões e contexto

O segredo vivo: Dryococelus australis (lagosta-arborícola de Lord Howe)

Em 1788, o capitão britânico Henry Lidgbird Ball avistou a rocha e deu-lhe o seu nome. O que parecia apenas uma curiosidade geológica revelou-se o refúgio de um dos animais mais intrigantes do Pacífico: Dryococelus australis, conhecido como o bicho-pau de Lord Howe ou, popularmente, a lagosta-arborícola de madeira. Essa espécie era considerada extinta desde 1920. Em 1918, um navio naufragou perto de Lord Howe; ratos que foram trazidos no porão rapidamente se espalharam pela ilha e caçaram os insetos. Em 1960, restinhos de indivíduos foram encontrados nas encostas da Pirâmide Ball, já secos. Somente em 2001, 20 a 30 indivíduos vivos foram descobertos, reacendendo a esperança de conservação. Esses insetos alimentavam-se das folhas de Melaleuca howeana, árvore-endêmica da região, que cresce nas ilhas de Lord Howe.

O segredo vivo: Dryococelus australis (lagosta-arborícola de Lord Howe)

Zealandia: o continente afundado e o papel da Pirâmide Ball

Uma nova hipótese sugere que Ball's Pyramid, a ilha de Lord Howe e as demais ilhas próximas, assim como a Nova Zelândia, são as últimas saídas acima da superfície do continente submerso Zealandia. Zealandia é um microcontinente com crosta fina; hoje, cerca de 94% dele está debaixo das águas do Pacífico. Ball's Pyramid é um dos poucos fragmentos de terra que ainda se ergue acima do nível do mar. Localizada na fronteira entre as placas Indo-Australiana e Pacífica, Zealandia foi deformada, alongada e em grande parte submersa ao longo do tempo, deixando estas rochas como testemunhas do passado. No fim, fica claro: até mesmo uma única rocha no mar pode salvar uma espécie e contar a história de um continente afundado.

Zealandia: o continente afundado e o papel da Pirâmide Ball