Pele lisa, poder e dor: a história da depilação feminina que atravessa séculos
Do Egito antigo às passarelas do século XX, a pele sem pelos foi símbolo de higiene, civilidade e status. Em várias épocas, depilar-se era um rito de poder — e, paradoxalmente, também de dor. Entre as curiosidades da corte, as favoritas usavam merkin — perucas com pelos que ajudavam a manter a aparência desejada — e os homens viam nelas uma promessa de erotismo. Ao mesmo tempo, mulheres enfrentavam métodos dolorosos para ter a pele lisa. Um caso extremo fica registrado na lembrança de Lola Montez, famosa cortesã da Baviera, namorada do rei Ludwig I. Em 1858, ela descreveu o sofrimento de quem buscava pele lisa nas pernas, axilas, no lábio superior e no pescoço; e chegou a sugerir misturas de galbanum e uma massa de resina que funcionavam como tiras depilatórias, deixando feridas em vez de suavizar a pele.
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Egito antigo: higiene e depilação com pumic
Para o povo do antigo Egito, depilação era, antes de tudo, higiene. Homens e mulheres raspavam os pelos do corpo — e até da cabeça — para manter as perucas simples de cuidar. Para a pele do rosto, usavam uma mistura de açúcar e tiras de tecido, uma técnica que antecipa métodos de depilação modernos.
Grécia e Roma: pele lisa como sinal de civilização e riqueza
Para gregas e romanas, o corpo depilado era sinal de civilização, cultura e status. A ausência de pelos acima da cintura era comum e lida como indicativo de refinamento. Em banhos públicos, depilar-se era uma prática frequente. As mulheres mais ricas tinham escravas treinadas para cuidar da depilação, usando pinças, pumícia e cremes depilatórios que lembram os produtos de hoje.
Idade Média e Renascimento: variações regionais e hábitos diferentes
Na Idade Média, a depilação não era prioridade entre o povo comum, e a Igreja muitas vezes a via como pecado. Entre as damas da nobreza, as práticas variavam por região. No sul da Europa — Itália, Espanha e parte da França — a remoção de pelos era popular, ajudando inclusive a combater piolhos. Seguia-se a moda de remover não apenas pelos do corpo, mas também as linhas da testa para parecerem mais altas, além de eliminar pêlos de sobrancelhas e cílios em alguns contextos estéticos.
Da monarquia ao século XX: do corset às lâminas seguras e ao movimento feminista
A favorita do rei Henrique IV da Navarra, Gabrielle d’Estrées, orgulhava-se dos pelos abaixo da linha da cintura, trançava-os e enfeitava com fitas; às vezes, uma trança cortada tornava-se presente para um cavaleiro. Na era vitoriana, depilar-se não era uma prática comum entre as mulheres; algumas usavam merkin para manter a aparência desejada. No começo do século XX surgiram as primeiras lâminas de barbear seguras para mulheres, com a Gillette liderando campanhas como “O primeiro grande movimento contra os pelos” e o lema “Todas as damas elegantes raspam as axilas!”. Com a popularização do biquíni e das meias de nylon, raspar as pernas tornou-se quase obrigatório, embora algumas mulheres resistissem. Nos anos 60, o movimento feminista pediu que as mulheres rejeitassem a depilação como símbolo de opressão patriarcal. Hoje, cada mulher decide por si mesma; ver estrelas com axilas peludas ainda surpreende, mas a diversidade está ganhando espaço. Siga meu canal para acompanhar novas histórias sobre a história da aparência.