Ouro ultrapassa 4.100 dólares por onça e encena o rally mais feroz da década
O preço do ouro subiu acima de US$ 4.100 por onça troy pela primeira vez, levando o rali deste ano a mais de 50% e o ganho total a quase 100% desde o início de 2024. A velocidade desta subida surpreendeu analistas e tem colocado Ouro no centro das atenções dos investidores, com filas longas diante de casas de câmbio de ouro em Sydney. Diversas explicações foram sugeridas para explicar a corrida recorde do metal: incertezas econômicas provocadas por níveis de dívida pública crescentes e o atual shutdown do governo dos EUA, além de temores sobre a independência da Reserva Federal. Se influências políticas empurrarem as taxas de juros americanas para baixo, isso poderia provocar uma nova inflação. O ouro é tradicionalmente visto como proteção contra a inflação. Contudo, esses fatores não parecem ser as principais razões por trás do rali meteórico. Em primeiro lugar, o preço do ouro vem num trajeto ascendente há vários anos, muito antes do surgimento dessas questões. A explicação mais provável para o atual rally é a demanda crescente por ETFs de ouro. Esses fundos acompanham os movimentos do ouro (ou de ativos como ações ou bonds) e são negociados na bolsa, tornando ativos como as commodities mais acessíveis aos investidores. Antes do primeiro ETF de ouro lançado em 2003, era considerado difícil para investidores comuns obterem exposição ao ouro. Hoje, os ETFs de ouro estão amplamente disponíveis e o ouro pode ser negociado como qualquer outro ativo financeiro. Isto parece estar a mudar a visão dos investidores sobre o papel tradicional do ouro como ativo de refúgio em tempos de turbulência política ou financeira, quando outros ativos como ações são mais arriscados.
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O principal motor do rally é a procura por ETFs de ouro
Várias explicações foram apontadas, mas a mais provável é que a procura por ETFs de ouro esteja a impulsionar o rally. Os ETFs permitem que o ouro seja negociado como qualquer outro ativo na bolsa, aumentando a acessibilidade para investidores. A partir de 2003, quando foi criado o primeiro ETF de ouro, tornou-se possível expor-se ao ouro de forma muito mais simples. Hoje, os ETFs de ouro são amplamente disponíveis, e o metal deixa de figurar apenas como uma peça de refúgio. Isto está a mudar a perspetiva dos investidores sobre o papel do ouro, especialmente em períodos de turbulência política ou financeira, em que ações costumam ser mais arriscadas.
Bancos centrais emergentes aumentam as reservas de ouro
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), as holdings centrais de ouro físico nos bancos centrais de mercados emergentes subiram 161% desde 2006, para rondarem as 10.300 toneladas. Para ilustrar a dimensão, as reservas de ouro nesses mercados cresceram 161% desde 2006, chegando a cerca de 10.300 toneladas. Em termos de evolução histórica, esse crescimento é superior ao aumento de 50% observado nas cinco décadas que antecederam 2005. Entre os países, a Rússia tornou-se um comprador líquido de ouro em 2006 e acelerou as compras após a anexação da Crimeia em 2014, passando a deter uma das maiores reservas do mundo. Enquanto isso, a China tem diversificado a sua carteira, vendendo parte de holdings de obrigações do Tesouro dos EUA e passando a comprar ouro, num processo conhecido como “des-dollarização”. O país pretende reduzir a dependência da moeda norte‑americana.
Des-dollarisation em curso e o peso político das reservas de ouro
As autoridades de bancos centrais de mercados emergentes também aumentaram as suas reservas de ouro após a exclusão da Rússia do sistema de pagamentos SWIFT e perante propostas de confiscar reservas do banco central russo para financiar apoio à Ucrânia. Esperam-se novos esforços de des-dollarisation, com muitos desses países a verem as moedas ocidentais como portadoras de maior risco de sanções. Em relação ao ouro, esse risco não existe. Este cenário pode tornar as sanções financeiras menos eficazes como ferramenta de política em futuras crises. A procura contínua da Rússia e da China, bem como a procura de ouro por parte de ETFs, sugere que o preço pode subir ainda mais, com a procura de joalharia e componentes eletrónicos a sustentar a procura global.
Mercados de ETFs continuam a alimentar o rali e há previsões ousadas
Relatórios do World Gold Council indicam entradas recordes em setembro, com os fluxos de ETFs no trimestre setembro a registarem mais de 26 mil milhões de dólares. Nos nove meses até setembro, os fluxos dos fundos atingiram 64 mil milhões de dólares. Os bancos centrais emergentes tendem a ser menos sensíveis ao preço, movidos por fatores geopolíticos. Analistas da Goldman Sachs já ajustaram para cima o preço-alvo do ouro para 4.900 dólares por onça no final de 2026.
O que isto significa para a Austrália
Como o maior produtor de ouro do mundo, com pelo menos 19% das reservas conhecidas, a Austrália deverá beneficiar-se de novos aumentos no preço do metal. O Departamento de Indústria, Ciência e Recursos prevê que o valor das exportações de ouro venha a ultrapassar as exportações de gás natural liquefeito (GNL) no próximo ano. Assim, o ouro deverá tornar-se a segunda exportação mais importante do país, atrás apenas do que o ferro-ouro (ferro).