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No solo de uma ilha remota, nasceu o remédio que promete atrasar a velhice — e uma história quase invisível

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Do solo da Ilha de Páscoa nasceu uma descoberta que mudou a medicina: a bactéria Streptomyces hygroscopicus, identificada durante uma expedição canadense em 1964, deu origem à rapamicina. Este composto passou a ser amplamente utilizado como imunossupressor para evitar a rejeição de órgãos após transplantes. Além disso, estudos indicam que ele pode ter aplicações terapêuticas em alguns tipos de câncer e em doenças neurológicas. Em modelos animais, a rapamicina demonstrou potenciais efeitos contra o envelhecimento, aumentando a longevidade, ainda que os experimentos humanos estejam em etapas iniciais. O impacto econômico é expressivo: em 2024, as vendas somaram 8 milhões de dólares, com previsões de chegar a 522 milhões até 2033. E, ironicamente, a ilha quase não é mencionada nas publicações científicas, gerando frustração entre pesquisadores que reconhecem seu papel central.

No solo de uma ilha remota, nasceu o remédio que promete atrasar a velhice — e uma história quase invisível

Como uma expedição transformou uma ilha no berço da medicina

Em 1964, uma expedição científica partiu para a Ilha de Páscoa para mapear a biosfera local antes da construção de um aeroporto. Entre as amostras de solo, eles isolaram a bactéria Streptomyces hygroscopicus, que produz o composto que viria a ser batizado de rapamicina. Os primeiros resultados mostraram propriedades antibacterianas e antifúngicas, mas logo ficou claro que o composto tinha algo ainda mais importante: a capacidade de modular o crescimento celular.

Como uma expedição transformou uma ilha no berço da medicina

Como a rapamicina atua no corpo

A rapamicina atua bloqueando a proteína mTOR, fundamental na regulação do crescimento celular, do metabolismo e da resposta imune. Ao reduzir a atividade de mTOR, o composto diminui a inflamação, retarda o envelhecimento das células e mostra eficácia contra algumas formas de câncer. No entanto, as evidências mais consistentes sobre envelhecimento vêm de estudos em roedores e leveduras, o que significa que os efeitos em humanos não estão ainda comprovados.

Como a rapamicina atua no corpo

Economia, reconhecimento e lacunas científicas

Apesar de seu papel revolucionário, a ilha de Páscoa aparece de forma discreta na literatura científica. Em números, a rapamicina movimentou 8 milhões de dólares em vendas em 2024, com previsões de alcançar 522 milhões até 2033. O fato de a origem vir de um local tão isolado e ainda assim receber pouca atenção pública provoca debates entre pesquisadores e comunitários. O estudioso Ted Powers, da Universidade da Califórnia, Davis, defende que o mundo científico reconheça adequadamente o papel da ilha e inicie um diálogo com os moradores para definir caminhos de cooperação futura.

Economia, reconhecimento e lacunas científicas

Chamado à ação: ciência com respeito às comunidades

Powers afirma que é necessário devolver o crédito ao local que ajudou a abrir caminho para este avanço médico. O texto sublinha a importância de uma ciência que dialogue com as comunidades locais, respeitando tradições e interesses, e que envolva os moradores nas pesquisas futuras, de forma ética e colaborativa. A mensagem central é que o conhecimento não deve agir de forma assimétrica: deve haver parceria, transparência e benefício mútuo.

Chamado à ação: ciência com respeito às comunidades