Mistério de 360 anos: Graham-Dixon afirma ter identificado a modelo de Vermeer
Depois de 360 anos, um historiador de arte afirma ter decifrado um dos mistérios mais duradouros da história da pintura: quem foi a modelo de A Menina com o Brinco de Pérola. Em seu novo livro, Vermeer: A Life Lost and Found, Andrew Graham-Dixon sustenta que Johannes Vermeer, pintor holandês do século XVII, trabalhou quase exclusivamente para o casal Pieter Claeszoon van Ruijven e Maria de Knuijt, moradores de Delft e membros de uma seita radical chamada Remonstrants. Com base nisso, ele acredita que a moça da pintura é Magdalena, filha de 10 anos do casal, retratada com um turbante exótico e, é claro, o brinco de pérola."
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Quem financiava Vermeer e por que isso importa
A chave da tese está no círculo de patronos do pintor: Pieter Claeszoon van Ruijven e Maria de Knuijt. O casal integrou a comunidade Remonstrant, uma seita cristã radical de Delft. A relação próxima entre Vermeer e esses mecenas, segundo Graham-Dixon, sugere que a imagem possuía funções simbólicas e familiares no contexto da fé compartilhada. Graham-Dixon acrescenta que a obra pode ter sido moldada pela visão religiosa do grupo, que incluía as práticas dos Collegiant, encontros de faísca espiritual que marcavam a vida do círculo de Maria de Knuijt e de Vermeer, que também foi criado como Remonstrant.
A tese: Magdalena, a filha de 10 anos, como modelo da obra
Graham-Dixon sustenta que a escolher por Magdalena, filha de dez anos de Ruijven e de Knuijt, a menina seria retratada nos trajes de Maria Madalena — figura central para a estética Remonstrant. Segundo ele, Magdalena teria 12 anos no outono de 1667 e, se fosse Collegiant, poderia ter feito seu compromisso com Cristo nessa idade. Essa leitura liga a iconografia da pintura aos símbolos de fé do próprio círculo de patronos e do pintor, que também era Remonstrant.
Debate e ceticismo: 'tronio' versus retrato biográfico
Nem todos aceitam a tese de Graham-Dixon. Ruth Millington, autora de Muse: Uncovering the Hidden Figures Behind Art History’s Masterpieces, afirma que a obra não precisa ser um retrato direto de uma pessoa identificável. “A atração desta pintura é o mistério da musa”, disse ao Daily Mail, vendo a peça como um tronio — uma figura imaginária com mais complexidade do que uma biografia simples. Para Millington, a beleza da pintura está na ambiguidade, que convida a várias leituras, em vez de uma única história factual.
Chevalier e o poder do enigma: a imagem que não se resolve
Tracy Chevalier, autora de Girl With a Pearl Earring, sustenta que a força da obra está justamente na falta de resolução: “Você não pode responder à pergunta de o que ela está pensando ou como ela se sente. Se fosse resolvida, então você iria para a próxima pintura.” O mistério continua a alimentar a curiosidade e a imaginação de gerações, incluindo quem imaginou a história por trás da obra.