Fraude 419: como um golpista famoso roubou 242 milhões de dólares sem levantar da cadeira — a história inacreditável de Emmanuel Nwude
Conheça Emmanuel Nwude. Durante mais de uma década, ele enganou bancos na França, na Inglaterra e no Brasil. Sua fraude mais famosa? A venda de um aeroporto inexistente por 242 milhões de dólares. Esta é a história do golpe 419 que atingiu proporções quase inimagináveis.
In This Article:
Como começou a farsa 419: a escolha da vítima, a isca e o golpe
Os golpes 419 baseiam-se numa narrativa de riqueza extrema e urgência para transferir grandes somas de dinheiro para o exterior. A base do esquema é a história de uma pessoa rica, muitas vezes chamada de 'príncipe nigeriano' ou funcionário de alta patente, que precisa de ajuda para transferir dinheiro para o exterior. A vítima escolhida foi Nelson Sakaguchi, diretor do Banco Noroeste no Brasil, que mantinha vínculos com o Union Bank of Nigeria. Nwude tinha pessoas lá para facilitar a operação. Uma carta chegou a Sakaguchi, supostamente da Sra. Tafida Williams, afirmando ser funcionária sênior do Ministério da Aviação do governo federal da Nigéria, dizendo que o Ministério buscava investidores para um novo aeroporto em Abuja e que Sakaguchi receberia uma comissão de 10 milhões de dólares. Assim, as partes combinaram conduzir a negociação em Londres.
Londres: o contrato falso e o pagamento inicial de 50 milhões
A delegação do Banco Noroeste, liderada por Sakaguchi, viajou a Londres para encontro com o diretor do Banco Central da Nigéria, Paul Ogwuma, e representantes do Ministério da Aviação. A reunião terminou com um contrato assinado; a Nigéria recebeu 50 milhões de dólares em dinheiro logo após a conclusão do acordo. Anos depois, o total subiu para 242 milhões, dos quais 90% foram pagos em dinheiro. Quem era o “Sr. Paul Ogwuma” na reunião? Era Emmanuel Nwude e sua quadrilha, apresentando-se como autoridades reais. Tudo, desde o primeiro fax até o último pagamento, era uma farsa cuidadosamente tramada.
A farsa dura seis anos: aeroporto inexistente e a queda
O golpe durou de 1998 a 2004, período no qual Nwude enviava relatórios de construção falsos e recebia novos adiantamentos para manter a ilusão de uma obra em andamento. Em 2004, o Banco Santander propôs comprar o contrato do Banco Noroeste. A due diligence revelou que não havia aeroporto — apenas papel. Nwude, que vivia em Abuja, continuava a acreditar na narrativa, até que a polícia chegou. O inquérito durou dois anos; ele foi condenado a 25 anos de prisão, mas cumpriu apenas cinco. O destino do dinheiro permanece incerto; dizem que grande parte dele foi redistribuída ao longo do tempo.
Lições e legado: o que aprendemos com o maior golpe financeiro da Nigéria
A história revela a escala das fraudes 419 e expõe falhas que podem permear instituições. Perguntas sem resposta persistem: para onde foi o dinheiro? Quem lucrou de verdade? As lições são claras: é indispensável uma due diligence rigorosa, verificações de contratos e ceticismo diante de promessas de dinheiro fácil. Este caso serve como alerta de que até grandes instituições podem ser enganadas quando não há vigilância constante. E fica a memória de alguém que vendeu um aeroporto inexistente e manteve o jogo por quase dez anos.