De cinco diplomas ao chão da rua: Liu Wei trocou o luxo pela liberdade que não se compra
Liu Wei, 32 anos, já conquistou cinco diplomas: dois bacharelados e três mestrados. Viveu em Sydney, Nova York, Pequim e Paris, e a carreira que prometia sucesso trouxe, com o tempo, vazio e ansiedade. Durante a pandemia, caiu em depressão, isolando-se em uma casa em Paris, jogando sem fim e esquecendo de si mesmo. Em vez de seguir o caminho esperado — cargos elevados e riqueza — ele escolheu abandonar a vida de prestígio e morar sob uma lona. "Isso é libertação", diz. A liberdade que busca não está no dinheiro nem nos holofotes, mas na escolha de viver de forma autêntica.
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Infância sob pressão: aprovação constante, amor condicional e violência
Desde cedo, o amor da família vinha acompanhado de exigência por notas altas e comportamento perfeito. Os avós, por vezes, demonstravam afeto, mas o pai punia com violência por qualquer erro. Liu era canhoto; o pai tentou forçá-lo a mudar, com punições mais severas. Esse episódio deixou uma sombra permanente na relação com o pai. A pressão por performance moldou sua visão de mundo e plantou inseguranças que o acompanharam por toda a vida.
Da Nova Zelândia à pauta da elite: a cobrança pela conformidade
Aos 10 anos, a família migrou para a Nova Zelândia. A mãe, absorvida pela mudança, mal percebia a necessidade de apoio emocional para o filho. Um episódio marcante veio quando um vizinho chamou Liu de 'filho da mamãe', gerando vergonha profunda. Na escola interna, o professor de natação lançava crianças que não sabiam nadar para o fundo da piscina — supostamente para ensiná-las a sobreviver. Todo fim de semana, Liu tentava fugir; os pais o traziam de volta. O mundo parecia hostil e exigia conformidade constante para sobreviver.
Conformidade profissional versus o chamado interior
Ele sonhava com pedagogia, sentia a vocação de educar, mas a mãe insistia que ensinar seria uma ‘perda de talento’; o pai admirava financistas e dizia que dinheiro faz dinheiro. Assim, Liu supriu suas próprias vontades para atender às expectativas. Tornou-se o ‘produto ideal’ do sistema: dois bacharelados, três mestrados, com passagens por Sydney, Nova York, Pequim e Paris. Internamente, era um idealista e introvertido, que sentia que o mundo corporativo não o reconhecia de forma autêntica. Um cargo prestigioso em Paris, com salário acima de 100 mil por ano, não trouxe plenitude: a exaustão e a ansiedade persistiam, e a pandemia acelerou o colapso. Em Paris, ficou horas diante do computador, esquecendo-se de comer, sem tempo nem energia para si mesmo.
Renascença em campo aberto: minimalismo, missão e família
Um encontro com expatriados semelhantes salvou Liu da espiral. Eles decidiram buscar trabalhos sem habilidades especiais; ele começou lavando pratos em um restaurante chinês e encontrou alegria no presente, não no futuro ideal. Em maio de 2023, retornou à China — inicialmente a Chengdu, depois ao Oeste de Sichuan — com quase dois anos de voluntariado: reconstrução de edifícios, projetos ecológicos e trabalho físico simples que lhe deram um novo senso de propósito. Em dezembro de 2023, instalou-se em uma cidade de vida alternativa, vivendo em uma barraca. Seu dia a dia é minimalista: acorda às 7h, dorme às 21h, faz duas refeições por dia em uma cantina vegetariana gratuita e gasta menos de 1.000 yuan por mês. Não usa pasta de dentes; toma banho apenas de vez em quando; tem um guarda-roupa de 10 peças e, recentemente, botas de 25 yuan que cederam durante uma peregrinação ao Tibete. Não se enxerga como mendigo; vê nisso um protesto contra o hiperconsumo. Ele transforma o tempo livre traduzindo e publicando vídeos sobre psicologia (mais de 800 em um ano) e planeja uma plataforma chamada ‘Jogando’ para que crianças testem profissões por meio de jogos. Liu tem uma filha de 10 anos, fruto de um relacionamento nos EUA; tenta ser amigo, não autoritário, e não mantém contato com os pais. Carrega a pelúcia de uma esquilo como símbolo de conforto. Sua história não é um manifesto contra a educação, mas uma revisão de valores impostos. A tenda é sua central de pesquisa, onde colocou a vida em primeiro lugar. Hoje, ele diz que o verdadeiro conceito de sucesso é acordar sabendo que a vida pertence a ele — não ao tempo que troca por aprovação alheia. Ele se orgulha de ser, aos olhos dele, o homem mais bem-sucedido do mundo nessa medida.