À procura de pérolas árabes: como passei um dia na Suwaidi Pearls, em Ras Al-Khaimah
Quando ouvi falar da Suwaidi Pearls em Ras Al-Khaimah, imaginei um museu ao ar livre: barcos em miniatura à beira da água, pérolas sob vidro e placas com dados secos. A realidade, porém, mostrou-se muito mais impressionante. A excursão começou com uma travessia em uma dhows tradicional até o local de cultivo das ostras. Fui acompanhada por um pequeno grupo de turistas; nos acomodamos nos bancos de madeira, saboreamos café árabe e seguimos entre os manguezais até o local onde as ostras são cultivadas. Nosso guia, Bilal, vestindo roupas árabes tradicionais, contava com entusiasmo a história da pesca de pérolas na região. O Golfo Pérsico sempre foi uma das principais regiões de extração de pérolas, produzindo pérolas de beleza excepcional: grandes, de formato perfeito e brilho estável, exportadas para a Europa e a América. Por séculos, esse setor sustentou a economia da região, até que, no começo do século XX, foi deslocado pela indústria do petróleo.
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Da expectativa à realidade: a fazenda flutuante que revive a tradição
A fazenda fica no meio de um pontão, e foi inaugurada há cerca de 20 anos pelo herdeiro do último mergulhador de pérolas naturais, Abdullah Al-Suwaidi. Inspirado pelas lembranças do avô Mohammed, que mergulhou por mais de 50 anos, Abdullah decidiu reviver a prática quase desaparecida com a expansão da indústria petrolífera. No pontão, vimos equipamentos de mergulho, ferramentas antigas usadas para abrir as ostras, e mapas que guiavam os mergulhadores. Também havia caixas tradicionais onde as pérolas eram armazenadas, bem como telas de metal usadas para determinar o tamanho, o peso e a qualidade das pérolas.
O mergulho: a disciplina antiga que moldou uma profissão
O que mais me marcou foi o próprio mergulho. Para sentir a experiência, o guia amarrou em meu pé um peso para acelerar o mergulho, prendeu um clamp de nariz feito de casco de tartaruga para evitar a entrada de água e entregou-me uma cesta trançada para coletar moluscos. Mesmo com esse equipamento, eu mal conseguia me mexer — era assim que os mergulhadores faziam até a década de 1940. Eles mergulhavam a profundidades de 10–30 metros, prendiam a respiração por 1–2 minutos e repetiam a cada dia entre 30 e 50 mergulhos. O trabalho era extremamente perigoso, pois utilizavam o mínimo de equipamento. Ao retornar à lancha, começava a crupte a tarefa de abrir os moluscos: examinavam o conteúdo com cuidado. Em geral, encontravam apenas carne, mas às vezes surgia uma pérola. Elas eram cuidadosamente lavadas na água salgada e, em seguida, classificadas por cor, forma e tamanho — desde grãos minúsculos até exemplares perfeitamente redondos, que valem muito.
Do mergulho antigo ao cultivo moderno: o núcleo que cria pérolas
Para entender a revolução, basta olhar para o que acontece hoje na Suwaidi Pearls. As ostras são colocadas em contêineres pretos — uma espécie de anestesia local, para que durmam; se a concha fica muito dura, abri-la pode matar a ostra. Elas ficam na água, adormecidas, até o momento da implantação. Depois de cerca de um mês, com instrumentos delicados, insere-se uma pequena esfera de nácar no interior da concha e a ostra volta à água. Tudo é feito à mão, para minimizar o estresse. Ao redor do núcleo implantado pode ou não surgir pérola; se o núcleo permanecer, a pérola começa a se formar. O clímax da nossa visita foi a demonstração de ostras que já passaram pela implantação há dois anos. O guia me deixou escolher uma ostra para abrir ali mesmo: se houvesse pérola, ficaria comigo. A chance de encontrar uma pérola era de cerca de 50%. Com o coração a mil, escolhi uma concha — e a pérola apareceu. Foi uma emoção indescritível. No final, o guia mostrou uma coleção única de pérolas, incluindo itens naturais e cultivados, além de um Corão decorado com nácar. Também ensinou truques para distinguir pérolas verdadeiras de imitações. O brilho natural reflete a luz de forma múltipla, parecendo vir de dentro, enquanto o brilho artificial fica apenas na superfície. As pérolas de maior valor possuem superfícies tão lisas que parecem espelhos, refletindo o próprio rosto. A visita à Suwaidi Pearls foi uma revelação: não é apenas ver como se extrai pérola, é entender a história e as tradições dessa indústria na região. A fazenda opera de forma ecológica, com painéis solares, cuidando do meio ambiente marinho. Se você estiver em Ras Al-Khaimah, vale a pena conhecer esta fazenda — uma ponte entre passado e presente, onde cada pérola carrega o aroma salgado do mar e os segredos de suas profundezas.